terça-feira, 29 de setembro de 2015

A MISSÃO DOS SETENTA E DOIS Lc 10,1-12 - 01.10.2015


HOMILIA

Lucas narra que Jesus envia um novo grupo: o dos 72 discípulos. Eles são enviados “na frente” do Senhor, como precursores, como preparadores da chegada do reino de Deus. O número 72 é simbólico e indica a universalidade da missão: o número 72 é múltiplo de 12 para representar a totalidade do povo de Deus.

A missão, portanto, não é uma tarefa somente de alguns, do grupo dos doze, mas uma obra também dos leigos, ou seja, de todos os cristãos. Assim, a missão é universal desde a sua origem e compreende todos. O texto especifica que Jesus envia “dois a dois”, pois o anúncio do Evangelho não é uma tarefa pessoal, mas de uma comunidade. O fato de serem enviados de dois a dois também quer mostrar a credibilidade do testemunho, além do fato do encorajamento que um pode dar ao outro no caso de desânimo diante das dificuldades.

Jesus, depois de ter falado em semente e em arado, fala agora de colheita. Esta última, por sua vez, é imensa, mas os trabalhadores disponíveis são poucos. Ontem e hoje vivemos a mesma situação! É um trabalho gigantesco, e nunca haverá trabalhadores suficientes; só o Pai pode chamá-los e enviá-los. Assim, é necessário rezar a Ele, pedindo que chame mais pessoas. É justamente por causa da extensão da missão que Jesus chama mais este grupo de ajudantes, e, mesmo assim, são poucos diante da imensidão da missão que Ele tem pela frente e da qual nos torna participantes.

Jesus faz o envio: “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. É a imagem clássica da fraqueza diante da violência. A missão é uma obra difícil e perigosa. Aqueles que Ele enviou devem cumprir fielmente o seu trabalho, mas não devem exigir demasiado de si mesmos nem entrar em pânico diante da grandeza da missão. Devem, sim, ter consciência que não será uma tarefa fácil e que nem sempre serão recebidos de braços abertos. Devem fazer sua parte, com competência e perseverança, pois, em último caso, a responsabilidade é de Deus, e Ele não vai deixar cair em ruínas a sua messe, mandando trabalhadores necessários para isto.

A mensagem a ser levada é o dom da paz, no sentido mais completo, para as pessoas e às famílias, e, sobretudo, a mensagem de que “o Reino de Deus está próximo de vós”. O reino de Deus é, antes de tudo, uma pessoa: Jesus. Quem O acolhe encontra a vida, a alegria, a missão de anunciá-Lo.

O gesto de bater, sacudir a poeira dos pés, era um gesto simbólico dos israelitas que, ao ingressar de novo no próprio país, depois de terem estado em terra pagã, não queriam ter nada em comum com o modo de vida deles. Libertar-se da poeira que se grudou aos pés enquanto estavam em território pagão significava ruptura total com aquele sistema de vida. Fazendo isso, os discípulos transferem toda  a responsabilidade pela rejeição da Palavra àqueles que os acolheram mal e rejeitaram o anúncio do Evangelho. E a paz oferecida não se perde, mas volta a quem oferece.

O estilo da missão de Jesus e dos discípulos é o oposto daquele dos poderosos que o mundo de hoje idolatra. Não se baseia sobre a vontade de dominar, a arrogância ou a ambição, mas sobre a proposta humilde, respeitosa, atenta aos mais fracos, oferecida na gratuidade, sem buscar outras recompensas. O Evangelho de Jesus é uma mensagem de vida verdadeira para quem confia somente em Deus, que é Pai e também Mãe: “como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei” e em Cristo crucificado e ressuscitado.

Os 72 tinham uma tarefa nova e difícil. Mas, estes voltam para Jesus muito contentes porque ficaram impressionados pelos prodígios que puderam ver. Jesus freia um pouco esta alegria e diz: “antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”.

Como podemos, nós, discípulos de Jesus, seguir nossa missão em meio aos lobos do tempo atual? A missão é mais forte do que o medo. Às vezes, somos tomados por pensamentos negativos, tipo “o que vão pensar?” ou “o que vão dizer?”. É humano sentir medo, mas a missão deve superar os nossos temores. Nenhum profissional tem medo de falar de sua profissão. Então, por que deveríamos, nós cristãos, ter medo de falar de Cristo, da sua pessoa, da sua verdade, da sua vida, do seu amor, do seu mistério? A fé e a missão começam no coração e devem terminar nos lábios e nas ações. Não podemos deixar que o receio atrapalhe a nossa missão cristã.

Pai, que a perspectiva de dificuldades a serem encontradas no apostolado não me faça recuar da missão de preparar o mundo para acolher teu Filho Jesus.
Fonte Canção Nova

O JEITO DE SEGUIR JESUS Lc 9,57-62 - 30.09.2015


HOMILIA

Jesus usa essa pequena parábola para ilustrar o caminho do discipulado. Ser seu discípulo é tornar-se alguém tão concentrado em sua missão quanto o agricultor que ara sua terra. Não é possível olhar para trás, ter outras preocupações ou distrações. Envolver-se com o reino de Deus significa “já” estar com a mão no arado e não se pode perder tempo nenhum. Jesus é mais exigente que Elias, pois enquanto este permitiu que Eliseu fosse despedir-se de seus familiares, nem isso Jesus consente. É nessa radicalidade que este voluntário é surpreendido. Não se pode esperar o pai morrer, mas também não se pode nem despedir-se dele. O discipulado exige um engajamento imediato. Este homem foi confrontado com a radicalidade nua e crua da “urgência” com que se deve tratar o discipulado e o reino de Deus.

Novamente, como nos dois diálogos anteriores, não há resposta por parte da pessoa que conversa com Jesus. Sua reação? Não sabemos; fica apenas o silêncio. Um silêncio que pode ocultar uma multidão de pensamentos.

Este é um dos textos mais enfáticos sobre o seguimento de Jesus em todo o Novo Testamento. Ele apresenta a questão de que para ser discípulo de Jesus devemos pagar um “preço” e temos que ter consciência da “urgência” de seu chamado.

O “preço” a pagar é a certeza de que seguimos um Senhor que, embora seja dono de todo o universo, foi rejeitado e humilhado. Nossa vida não será diferente da d’Ele. Ser discípulo de Jesus significa assumir a disposição de ter uma vida simples, até mesmo com algumas necessidades, passar por incompreensões, às vezes estar sozinho nas lutas. Se não for assim, não estaremos aptos para seguir ao Senhor Jesus.

Levar o nome de cristão também implica em colocar o reino de Deus como prioridade em nossa existência. O texto ilustra isso de um modo chocante: nossas relações familiares. Se não estivermos dispostos a pagar o “preço” de colocar Jesus acima de “tudo”, até mesmo da família, e de assumir essa decisão com rapidez, pois o reino de Deus exige “urgência”, não conseguiremos ser discípulos. Você já pensou nisso? Já fez essa decisão?

É importante notar que o texto não apresenta nomes. Todas as três pessoas são desconhecidas. Você sabe por quê? Para que analisemos nossas vidas e vejamos se nosso nome não deve aparecer no lugar daquelas pessoas, devido ao nosso comportamento idêntico ao delas. Será que seu nome deve ser colocado no lugar do primeiro homem? Ou no do segundo? Talvez você se assemelhe ao terceiro? Essa é uma questão que só você pode responder.

As respostas que você der a esse texto definirão se você pode viver como discípulo conforme ilustrado em 9,51-56 e 10,1-12. Você tem conseguido viver com alegria como discípulo de Jesus?

Pai torna-me apto para o serviço do teu Reino, dando-me as virtudes necessárias para não me desviar do caminho traçado por ti, mesmo devendo pagar um alto preço por isso.
Fonte Canção Nova

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

ANTES QUE FILIPE TE CHAMASSE EU JÁ TINHA TE VISTO Jo 1,47-51 - 29.09.2015


HOMILIA

São João nos apresenta um Jesus conhecedor de tudo e de todos. Que não precisa que alguém lhe conte e mostre quem são as pessoas com as quais Ele se relaciona. Deus conhece todas as ações humanas, e Ele é o Justo Juiz, e seu Reino não terá fim. O mal um dia será vencido e não mais estará presente entre os homens. Mas isto somente vai acontecer quando vermos o céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem. Todavia somos convidados já a nos alegrarmos : por isso, alegra-te ó céu, e todos os que viveis nele. O convite é extensivo aos coros celestes, serafins, arcanjos e anjos. É Cristo quem nos chama para estar junto dele e participar de sua obra redentora!

Filipe não tinha guardado para si a grande alegria de ter encontrado o Messias anunciado pelos Profetas, mas comunicara-a ao seu amigo Natanael, que se mostrou incrédulo em face da procedência humilde de Jesus, filho de um carpinteiro de Nazaré, quando o Messias devia ser descendente de Davi e procedente de Belém. Filipe não se desmoraliza com as razoáveis objeções do amigo e também não confia em suas próprias explicações ao amigo; opta por convidar Natanael a aproximar-se pessoalmente de Jesus: “vem e verás” (v. 46).

Passemos agora para o nome Natanael. Biblicamente ele é de origem semítica e significa dom de Deus. Foi um dos Doze Apóstolos (cf. Jo 21, 2). É bem provável que tenha sido Bartolomeu, o qual teria dois nomes, sendo este último um nome patronímico (filho de Tolmay), como o patronímico de Simão Pedro, Baryona (filho de Jonas). Esta identificação é deduzida dos diversos catálogos dos Apóstolos que nos deixaram os Sinópticos, onde Bartolomeu sempre se segue a Filipe, aquele Apóstolo que levou Natanael a Jesus .

“Eu te vi, debaixo da figueira”. Natanael sentiu que o olhar de Jesus penetrava os mais profundos recônditos da sua alma, pois algo de significativo devia ter passado no seu coração naquela hora e naquele local exato a que Jesus se referia, e que só Deus podia conhecer.

Natanael é um israelita fiel à tradição da Lei, e parece não ter idéia da ruptura de João Batista com as instituições do Judaísmo. A fala de Jesus a Natanael, “quando estavas debaixo da figueira, eu te vi”, remete ao profeta Zacarias: Naqueles dias convidar-vos-ei, uns aos outros, debaixo da figueira. (Zc 3,10). Corresponda ou não, verdade é que, Natanael vê-se descoberto e então respondendo professa a sua fé em Jesus: Mestre, Tu és o Filho de Deus, o Rei de Israel. Tanto uma palavra quanto outra fazem parte dos títulos messiânicos procedentes do Salmo 2. A intenção do Evangelho revela-se ao apresentar, desde a primeira hora, confissões explícitas de fé em Jesus.

E com a expressão: “Então vereis o céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”, esconde e ao mesmo tempo revela de uma forma muito clara e expressiva que Jesus é o Mediador entre o Céu e a terra, ficando assim os Céus abertos para a humanidade. Ele é a porta pela qual os homens têm acesso ao Pai. É a escada de Jacó, pela qual subiam e desciam os Anjos na visão de Jacó (Gn 28,12).

Portanto, assim como Natanael, reconheçamos em Jesus “o Caminho, a Verdade e a Vida “.  Proclamemos bem alto: “Senhor, tu és o Filho do Homem, o Rei de Israel”, para que no final possamos ver o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre Ele; e com Ele reinemos eternamente.

Pai, leva-me a conhecer, cada vez mais profundamente, a identidade de teu Filho Jesus, e a fazer-me discípulo dele, de modo a compartilhar sua missão.
Fonte Canção Nova

domingo, 27 de setembro de 2015

O MAIS IMPORTANTE DO REINO Lc 9,46-50 - 28.09.2015


HOMILIA

O Evangelho de hoje trata de um assunto que nunca sai de moda: a vaidade, a soberba, o orgulho, a avareza, ou seja, dos sete pecados capitais que se resume no desejo de ser grande. O desejo de se sentir importante é um dos mais primitivos desejos do ser humano. Aliás, o ditado popular diz que o coração do homem é insaciável de ambições. Quanto mais tem mais quer.

Diferentemente da nossa maneira de pensar, olhar e ver humanos, Jesus nunca olha para uma pessoa, mas sempre olha através da pessoa. Quando olhamos para alguém, não percebemos o que aquela pessoa está passando, pensando, sentindo. Isso nós só conseguimos saber quando nos anulamos e nos colocamos no lugar da outra pessoa. Jesus foi, então, o maior de todos os psicólogos que já existiu. Ele sondava o coração, e era capaz de ser aquela pessoa.

Na passagem de hoje, Ele sondou o coração dos discípulos e sentiu que eles se perguntavam quem, dentre os Doze, seria o maior. Eles eram humanos como nós, e dentro do grupo, procuravam uma posição de destaque. Observe que Jesus não coloca todos no mesmo patamar. Jesus admite que haja a possibilidade de alguém ser maior que os outros. Existe uma hierarquia no Reino dos Céus! Mas essa hierarquia é o inverso da nossa.

Aqui, neste mundo, quanto maior for a sua posição, mais inacessível você se torna. Na hierarquia de Jesus, quanto mais acessível você for, maior a sua posição. Viu como inverte duplamente? Neste mundo, você cresce e se torna inacessível; no Reino dos Céus, você se torna acessível e cresce!

Quando as pessoas tiverem medo e resistência em falar com você, significa que algo está errado. O primeiro passo é assumir. Se você não assumir, não vai conseguir nem passar para o segundo passo: descobrir o porquê. A maioria das pessoas quer interagir mais, ter mais e melhores amigos. Mas só o farão se encontrarem abertura no seu coração. E isto pode ser na forma de um sorriso, uma brincadeira ou até em você saber o nome da pessoa e chamá-la pelo nome. E esse já é o terceiro passo: abrir-se. Em pouco tempo, você já vai ser tão solicitado, que não vai dar nem conta de tanta responsabilidade.

O missionário do Reino, portanto, não pode desprezar ninguém! A criança que Jesus tomou em seus braços nesta passagem, representa não só as crianças, mas todos os que são excluídos neste mundo.

Jesus nos revela hoje a novidade do projeto de Deus: é um mundo de justiça, de vida plena para todos, abolindo os privilégios daqueles que concentram poder a partir da acumulação de riquezas ou do prestígio religioso. Percebe-se, nos Evangelhos, que os discípulos vindos do judaísmo sempre tiveram dificuldades em compreendê-lo. Estavam tomados pela ideologia messiânica nacionalista. Como Jesus falou para eles sobre a fragilidade de sua condição humana, vulnerável ao sofrimento e à morte, aludindo ao fim que pressentia acontecer em Jerusalém e os discípulos não entenderam e logo em seguida, passam a discutir quem seria o maior, pensando que Jesus estaria na iminência de conquistar o poder, assim também Ele quer falar para nós. Jesus nos apresenta como exemplo e, sobretudo, condição para sermos os maiores no Seu Reino o olhar puro e simples de uma criança. A criança como símbolo e modelo de humildade e exclusão do Reino dos Céus. Somos chamados a viver dedicados ao serviço, sem pretensões ao poder e a privilégios.

Pai, que eu busque sempre destacar-me no serviço ao meu semelhante, de modo especial, aos mais necessitados, pois nisto consiste minha verdadeira grandeza de discípulo. E que nesta busca eu seja simples, puro e humilde como as crianças.
Fonte Canção Nova

sábado, 26 de setembro de 2015

Onde há o bem realizado, Deus aí está - 27.09.2015


HOMILIA

Hoje, a Palavra de Deus apresenta alguns elementos importantes que nos precisam ser continuamente recordados. Tanto a primeira leitura quanto o Evangelho, recordam-nos que Deus não é propriedade de ninguém. Ante o zelo mesquinho de João, Jesus afirma:

“Quem não é contra nós é a nosso favor”. É preciso compreender bem a afirmação do Senhor. Certamente, ele é o Caminho e a Verdade da humanidade; certamente ele fundou a Igreja, comunidade de seus discípulos; dotou essa Igreja do seu Espírito, de pastores e de toda uma estrutura visível. Esta Igreja de Cristo, nós cremos que permanece de modo pleno na Igreja católica. Isto significa que os elementos essenciais da Igreja de Cristo permanecem, por graça e fidelidade do Senhor, naquela Comunidade que ele fundou desde o início, a Igreja una, santa, católica e apostólica. Quais são esses elementos essenciais? A Palavra de Deus, pregada e interpretada segundo a Tradição apostólica, a Eucaristia como banquete e sacrifício, os sete sacramentos, o ministério de Pedro, presente nos seus sucessores, os Papas de Roma, o ministério episcopal, no qual se concretiza a sucessão apostólica, a caridade fraterna, os vários dons e carismas da comunidade, o sentido da missão de anunciar Jesus ao mundo como Senhor e Salvador, o martírio como testemunho máximo de Cristo, a presença materna da Virgem Maria e dos Santos, amigos de Cristo. A Igreja católica é, portanto, Igreja de Cristo, pertence a Cristo e, por graça de Cristo, conserva e conservará sempre, sem poder perder, estes elementos. Mas, isso não significa que a Igreja seja proprietária de Cristo. Aqui é preciso dizer claramente: a Igreja pertence a Cristo, mas Cristo não é propriedade da Igreja! De fato, na força do seu Espírito Santo, ele manifesta sua ação também fora da estrutura visível da Igreja católica. Pensemos nos nossos irmãos separados, de tradição protestante. Eles têm tantos elementos da Igreja de Cristo: a Palavra de Deus, a confissão de Jesus como Senhor e Salvador, tantos dons e carismas, o amor sincero a Jesus, a caridade fraterna, o ela missionário. Tudo isso deve ser, para nós, católicos, causa de alegria. Ainda que não estejam em comunhão plena com a Igreja de Cristo e falte-lhe elementos essenciais da Igreja de Cristo, eles não estão fora do caminho da salvação! Hoje, Jesus nos convida à tolerância e ao amor a esses irmãos.

Isto não significa de modo algum dizer que está tudo bem, que tanto faz ser católico como não ser, que o importante é a fé em Jesus e pronto. Não! É preciso recordar que a divisão na Igreja é um pecado grave e contraria o desejo de unidade que o Senhor deixou como testamento: “Pai, não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,20s). É também absolutamente falso afirmar que as questões de doutrina não são importantes. O Novo Testamento está repleto de advertências contra os que ensinam doutrinas erradas e contrárias à fé dos apóstolos e são Paulo mesmo exorta a separar da Comunidade quem pregar um evangelho diferente do dele (cf. Gl 1,6-9). A busca de recompor a unidade visível da Igreja em torno de Cristo, com os mesmos pastores, os mesmos sacramentos e a mesma doutrina é dever de todos os cristãos! Mas, também é necessário deixar claro o dever que todos nós temos da tolerância respeitosa e amorosa para com os irmãos separados. Se nos entristece ouvi-los falar mal da Igreja – às vezes até caluniando-a e mentindo contra ela -, deve alegrar-nos ouvi-los falar bem de Cristo e pregar o Evangelho. Ainda mais: até para com os não-cristãos, como os espíritas, muçulmanos, budistas, adeptos da seicho-no-iê… temos o dever do respeito e da tolerância. Deles, o Senhor afirma no evangelho de hoje: “Quem vos der a beber um copo da água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. Então, que fique bem claro o dever da tolerância que nós, discípulos de Cristo, temos para com os demais.

Mas, a Palavra de Deus também fala hoje de radicalidade. Tolerância para com os outros; radicalidade para conosco, no nosso ser cristãos! Vejamos: (1) Radicalidade no respeito pela debilidade dos pequeninos e fracos na fé: “Se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”. Deus nos livre de escandalizar, Deus nos livre de, por nossas atitudes, ser causa de tropeço para os irmãos mais fracos na fé! (2) Radicalidade para cortar o que em nós é escândalo, isto é, o que em nós leva ao pecado e ao afastamento de Cristo: “Se tua mão te leva a pecar, corta-a… Se teu pé te leva a pecar, corta-o… Se teu olho te leva a pecar, arranca-o!” Hoje, a tendência é arrancar o Evangelho para não termos que arrancar nada em nós, para não termos que nos incomodar nem mudar de vida! Jesus é claro: não entrará na vida quem sinceramente não combater aquilo que o faz tropeçar no caminho cristão. (3) Finalmente, a radicalidade de apoiar-se somente no Senhor e não nas nossas posses espirituais e materiais: espiritualmente, nunca pensar que somos proprietários do Senhor e da salvação e, materialmente, recordar que nossas riquezas apodrecem e nosso outro enferruja. São Tiago nos adverte duramente na segunda leitura de hoje: triste de quem é rico para si, desprezando os outros, mas não é rico para Deus!

Que o Senhor, pela sua graça, nos dê toda tolerância e toda intolerância. Toda tolerância com os irmãos e toda intolerância com o nosso pecado e as nossas manhas,! Que o Senhor nos converta, ele que é bendito para sempre. Amém.

D. Henrique Soares da Costa

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O FILHO DO HOMEM SERÁ ENTREGUE Lc 9,43b-45 - 26.09.2015


HOMILIA

Diante de tanta gente que procurava Jesus por causa das coisas que Ele fazia e das palavras que saíam de sua boca, Ele adverte aos seus discípulos que não ficassem com os olhos e as mentes na admiração e não se deixassem levar pela correnteza do povo que a Ele fluía.

Aquele que o povo procura ver, o homem que faz milagres, que alimenta o povo como que por “mágica” e não o Filho do Homem, o Filho do dono de tudo quanto existe, mas que para salvar os homens seus irmãos, deveria morrer numa cruz.

Cristo insiste em anunciar a Sua Paixão e Morte. Primeiro veladamente à multidão, e depois com mais clareza aos discípulos no Evangelho de hoje. Estes, porém, não entendem as Suas palavras, não porque não sejam claras, mas pela falta das disposições adequadas, pela falta de fé.

Talvez você também fique chocado: como é possível o Filho do dono da vida morrer? Se isso tiver de acontecer contigo é sinal de que ainda não chegou para ti o entendimento pleno do mistério do sofrimento, o significado da cruz. E então deves escutar o comentário de São João Crisóstomo: “Ninguém se escandalize ao contemplar uns Apóstolos tão imperfeitos, porque ainda não tinha chegado a Cruz nem tinha sido dado o Espírito Santo.”

Os discípulos tinham uma admiração e carinho extraordinários por Jesus. Percebendo isso, Jesus avisou-os: O Filho do Homem será entregue aos homens. Para nós, que sabemos o que Jesus passou da Quinta-feira Santa até a Crucificação, essa frase de Jesus é muito clara, mas o que tem de mais interessante no Evangelho de hoje é fazer o exercício de se colocar no lugar dos discípulos, e tentar entender o que se passava em seus corações e mentes.

O Evangelho de Lucas diz que os discípulos não alcançaram o sentido, e tinham medo de perguntá-lo a respeito. Eles não alcançaram o sentido porque não se passava em suas cabeças que Jesus poderia ser entregue à morte! E tinham medo de perguntá-lo porque sabiam que não iriam gostar do que iriam ouvir.

Os discípulos admitiram a fragilidade de não fazerem perguntas a Jesus sobre esse assunto porque tinham medo. Será que nós também não temos medo de saber sobre algum assunto desagradável?

Se os discípulos tivessem perguntado a Jesus sobre o que Ele estava falando, certamente poderiam ter se preparado melhor para os acontecimentos… Se o exame tivesse sido analisado a tempo, uma vida poderia ter sido salva… Se o assunto delicado tivesse sido conversado com calma, talvez muitos aborrecimentos pudessem ter sido evitados…

É preciso que o Filho do Homem seja entregue nas mãos dos homens para que nós tenhamos a vida e vida em plenitude. E quem no-lo confirma é o próprio Jesus: se o grão de trigo caído na terra não morre, permanece só. Mas se morre dá muito fruto. Permita que te diga meu irmão, a vida autêntica vai ser entregue nas mãos dos homens, para que os homens a possuam. Pois, na lógica humana, só é vivo quem tem a vida e para nós a termos é necessário que alguém a conceda. E então se justifica a entrega da vida de Jesus aos homens. No Evangelho segundo João 10,10 Jesus diz: eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância. Como a teríamos em plenitude se Ele não morresse na cruz?

Senhor, dá-me a graça de entender que a vida autêntica de fé e de missão é entrega e doação plena como vós mesmos fizestes. Que eu seja um dom, uma doação para os meus irmãos e irmãs. O mistério da Cruz, que não é outro senão o mistério Pascal da salvação do mundo em Cristo morto e ressuscitado domina toda a vida de Jesus. Para os discípulos de todos os tempos, ele será sempre uma realidade misteriosa, difícil de ser acreditada. No entanto, é nele que se revela todo o mistério de Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador.
Fonte Canção Nova

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

PEDRO RECONHECE O MESSIAS Lc 9,18-22 - 25.09.2015


HOMILIA

Lucas nos apresenta hoje a preocupação de Jesus sobre o conceito que as pessoas tem e fazem da Sua pessoa e então faz aos discípulos a inquietante pergunta: “Quem dizem as pessoas sobre quem é o Filho do Homem?” E o interessante disso tudo é que os discípulos escutavam os mesmos comentários que chegaram aos ouvidos de Herodes: que Jesus era ou João Batista, ou Elias, ou algum dos profetas antigos, que ressuscitou. Mas o que Jesus realmente queria saber era o que os seus discípulos pensavam a respeito dele. E nesse momento é Pedro quem toma a iniciativa da resposta e erguendo a voz diz: Tu és o Cristo de Deus!

A palavra Cristo vem do grego, é uma tradução literal de Messias, e significa ungido. Esta resposta de Pedro tem todo um significado, e é sobre isso que vamos refletir hoje.

Os livros proféticos do Antigo Testamento falam da vinda do Messias, o Salvador. E atribui a Ele o poder de curar os doentes, expulsar demônios, e trazer a paz ao povo. João Batista sabia disso. E é por isso que quando ele mandou seus discípulos perguntarem a Jesus se Ele era o Messias, Jesus pediu que os discípulos de João o acompanhassem durante aquela tarde enquanto Ele realizou a cura de cegos e aleijados. Depois disso, Jesus disse aos discípulos de João que voltassem para dizer o que tinham visto. Jesus não queria dizer, neste momento, que Ele era o Messias, pois muitas coisas ainda precisavam acontecer antes do seu martírio. João Batista, como conhecedor das Escrituras, sabia desses sinais. Se Jesus já afirmasse desde esse momento que era a Promessa de Deus, o alvoroço e a polêmica seriam ainda maiores do que este que já estava acontecendo. E isso poderia encurtar a sua trajetória no meio de nós.

Mas então as pessoas da época não sabiam que Ele era o Ungido de Deus? O Filho de Deus? Que não deveriam esperar que viesse outro? Pois é, não sabiam. Somente os discípulos sabiam disso. E foram severamente proibidos de comentar isso com alguém até que Ele passasse pelo martírio, morte e ressurreição.

Ainda hoje os judeus esperam a primeira vinda do Messias. Para eles, Jesus foi apenas mais um profeta, que teve a sua importância, mas que não libertou o povo, como eles esperavam. O entendimento deles não permite que vejam a libertação que Jesus veio trazer… A libertação da escravidão do pecado. Essa libertação vai muito além da libertação que eles esperavam, que era a libertação da servidão aos romanos da época, e depois a tantos outros povos ao longo da história. A libertação que Jesus veio trazer é de dentro para fora. Você pode estar acorrentado numa prisão, e ser livre. Você pode estar doente em um leito de hospital, rejeitado pelos seus pais e estar em um orfanato ou um asilo, pode ter perdido a saúde, a dignidade, o dinheiro, a liberdade de ir e vir… e ainda ser livre. Parece contraditório, mas é a Verdade. E a Verdade vos libertará. Nem a morte causa medo a quem tem essa liberdade. E essa é a maior prova de fé: não temer a morte.

Para Pedro, Jesus é Filho do Homem. É o Deus que se faz humano, convivendo no dia-a-dia comum entre as multidões e comunicando-lhes seu amor divino e eterno, que permanece para sempre, além da morte. E para ti quem é Jesus? A pergunta: E vós quem dizeis que Eu sou?, exige um comprometimento pessoal. Pedro corajosamente mostrou sua crescente lealdade, ao afirmar que Jesus era o Cristo de Deus. Nesta confissão Pedro quis dizer que Jesus era o único Deus, Filho ungido para seus propósitos. Quais propósitos? A maioria não tinha idéia, portanto Jesus não queria que seus discípulos divulgassem o que Pedro havia dito. Ao invés de um Rei ungido para sofrer e morrer por pecadores, a maioria dos judeus estavam à procura de um rei que trouxesse libertação política. Jesus então deixou claro o preço que teria que pagar para seguir a confissão de Pedro num mundo que não apenas estava confuso a seu respeito, como também era contra seu ministério. Concordar com a confissão de Pedro significa causar conflito entre os crentes e o mundo e os levaria a negar a si mesmos, ao carregarem a cruz do discipulado.

O discipulado de Cristo lá e aqui tem seu preço, seu custo. Dar a sua vida por amor aos seus irmãos. Esta é a mensagem para o dia de hoje. Peça e ore ao Senhor para que te ajude a abrir mão, se preciso for, da segurança, conforto e diversões deste mundo para O seguir. Que Ele te ensine a negar a ti mesmo, carregar a cruz e seguí-lo. Pois, sua promessa é: quem perder a vida por minha causa, este a salvará.

Por isso, peça a Deus esta graça. Pai, só tu podes revelar-me a identidade de teu Filho Jesus. Que eu a conheça de forma verdadeira para poder conformar com ela a minha vida.
Fonte Canção Nova

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

HERODES VIU, MAS NÃO CREU Lc 9,7-9 - 24.09.2015


HOMILIA

O evangelista Lucas narra esta interrogação de Herodes sobre Jesus por ocasião do envio dos Doze em missão pela Galiléia, território não muito extenso, que estava sob sua jurisdição. Recebendo notícias da crescente atividade de Jesus e seus discípulos, Herodes alarma-se, parecendo-lhe que se repetia a mesma agitação ocorrida com João Batista.  E por isso procura ver e saber quem é este homem de quem se ouve falar tanto.

Herodes estava ciente de que mandara degolar João Batista para ver-se livre da acusação que lhe pesava em vista da sua situação de adultério. Porém, o que Herodes não sabia era que João Batista havia sido apenas o precursor do Messias e que o verdadeiro Salvador estava vivo e sendo interrogado e acusado pelos prodígios que realizava. Por isso, “Herodes procurava ver Jesus” e se questionava sobre a Sua verdadeira identidade. A pessoa de Jesus continua a ser questionada por aqueles(as) que ainda não tiveram com Ele uma experiência de salvação. Muitos também, hoje, O buscam, mas não têm consciência de que e porque O procuram!

Escrevem sobre Jesus sem tê-Lo conhecido e fazem suposições sobre a Sua pessoa levando muitos outros a acreditarem nas suas falsas conjecturas. Jesus é o protótipo do homem vindo do céu, é o modelo que todo filho e filha de Deus precisam seguir para serem reconhecidos pelo Pai. Para que nós tenhamos convicção sobre quem é Jesus e qual o Seu verdadeiro papel na nossa vida nós precisamos conhecê-Lo através da Palavra, ter intimidade com Ele na oração, na adoração, na Eucaristia.

Neste mundo, o Senhor só é visto quando as pessoas querem vê-lo. Não há de que nos espantarmos. Mesmo na Ressurreição, só foi dado ver Deus aos que tinham o coração puro: “Bem-aventurados os corações puros, porque verão a Deus” (Mt 5,8). Quantos bem-aventurados não tinha Jesus enumerado já e, contudo, não lhes tinha prometido esta possibilidade de verem Deus. Se, portanto, aqueles que têm o coração puro hão de ver Deus, seguramente que os outros não o verão; aquele que não quis ver Deus não pode ver Deus.

Porque Deus não se vê num lugar, mas, através de um coração puro. Não são os olhos do corpo que procuram Deus; ele não é captado pelo olhar, nem tocado pelo tato, nem ouvido numa conversa, nem reconhecido numa atitude. Julgamo-lo ausente e vemo-lo; está presente e não o vemos. Aliás, nem todos os apóstolos viam Cristo; foi por isso que ele lhes disse: “Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheceis?” (Jo 19,9) Com efeito, todo aquele que conheceu qual é “a largura, o comprimento, a altura e a profundidade – o amor de Cristo que ultrapassa todo o conhecimento” (Ef 3,18-19), esse viu também Cristo, viu também o Pai. Porque, no que nos toca, não é segundo a carne que conhecemos Cristo (2 Cor 6,16), mas segundo o Espírito: “O Espírito que está diante da nossa face é o Ungido do Senhor, o Cristo”. Que Ele se digne, na sua misericórdia, cumular-nos com toda a plenitude de Deus, a fim de que O possamos ver!

Assim sendo poderemos apresentá-Lo àqueles que ainda não O conhecem para que tenham também um encontro com a Salvação. O que você fala de Jesus você o diz com conhecimento de causa? Você conhece Jesus porque lê muito sobre Ele ou porque encarna Sua Palavra como uma comida para a sua alma?

Pai, diversamente dos inimigos de Jesus, quero conhecer a identidade e a missão de teu Filho, pois é por ele que me guiarei para ser fiel a Ti.
Fonte Canção Nova

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A MISSÃO DOS DOZE APÓSTOLOS Lc 9,1-6 - 23.09.2015


HOMILIA

E chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois e dava a eles autoridade sobre os espíritos impuros. De dois em dois como se fossem testemunhas de uma verdade perante o mundo que não a conhecia. Evidentemente, a verdade era o Reino para o qual deviam se preparar com nova mentalidade. A autoridade sobre os espíritos impuros ou imundos é como o carimbo da divindade ao dominar os que na época se consideravam seus inimigos e triunfadores na luta entre o bem e o mal. O triunfo sobre eles indicava que o seu reino estava no fim e um novo reinado prestes a ser instaurado: o reinado da luz, da verdade e do bem em nome de Jesus, o representante do Deus vivo. Lucas em lugar paralelo, expressamente fala de proclamar o reino de Deus. O envio de dois em dois era próprio do tempo, pelo que dizia respeito aos mensageiros enviados para atestar uma mensagem. Também podemos ver nessa situação uma oportunidade para o mútuo apoio em situações difíceis. Jesus, no início de sua escolha, chama de dois em dois os irmãos pescadores. Os espíritos imundos: cremos que esta autoridade é para fazer calar os mesmos como Jesus fez na sinagoga de Cafarnaum ou expulsá-los como no caso da sogra de Simão, pois era considerada essa doença como causada por um espírito.  Os enfermos que curam eram os indispostos, para distingui-los dos que estavam mal e dos débeis. Não cremos que exista uma diferença real entre os termos que expressam uma mesma realidade: a doença.

E ordenou a eles de modo que não tomem para [o] caminho se não unicamente bordão, nem alforje, nem pão, nem cobre na cintura. Mas tendo atado [as] sandálias e não vestissem duas túnicas. As ordens eram umas positivas: bordão,  sandálias e uma túnica. Coisas necessárias para o caminho, pois nunca se caminhava descalço e um bordão era necessário tanto para se apoiar naqueles caminhos rudes e difíceis como arma defensiva contra os bandidos. Uma túnica é o mínimo que devia cobrir um corpo nu, ou seja, o necessário. As ordens negativas eram: não levar o alforje, que correspondia não ao cesto onde os judeus carregavam as provisões, especialmente o pão e vinho em sua peregrinação para Jerusalém, mas ao embornal dos mendigos que muitos missionários ambulantes levavam em suas missões. Também impede o dinheiro que era carregado numa bolsa na cintura ou dentro da faixa com que se atava a túnica ao redor dos rins. O texto fala de cobre, as moedas mais pobres sem ouro ou prata. Evidentemente com isto queria dizer que não podiam recolher qualquer dinheiro, nem como pobres, em sua missão. O texto de Mateus fala de não possuir ouro, nem  prata, nem cobre em seus cintos, nem sacola de provisões para o caminho nem duas túnicas, nem sandálias, nem bordão. Lucas diz que ordenou não tomar nada para o caminho, nem bordões, nem embornal, nem pão, nem prata, nem duas túnicas por cabeça. Dos textos vemos que não coincidem nos detalhes, especialmente Mateus para quem o bordão e as sandálias eram tão descartáveis como os alforjes e a túnica sobressalente. Os enviava com recursos até menores que os que tinham os mendigos, os mais pobres, para indicar que seu trabalho missionário não dependia dos valores humanos, mas da confiança que a Ele deviam: ao jovem rico manda dar tudo aos pobres para segui-lo. A pobreza era uma das características de Jesus, que não tinha nem onde reclinar a cabeça.

Se nas ordens anteriores era o caminho quem ditava as condições de pobreza para evitar se enriquecer com o pretexto da missão, agora coloca os discípulos como hóspedes gratuitos daqueles que aceitam o Evangelho. Caso não sejam recebidos, Jesus anuncia o que deve ser feito, profetizando que tal cidade teria um fim ainda pior do que foi dado às cidades que representavam no mundo antigo dos judeus o pecado propriamente dito. E todos que não vos receberem nem vos ouvirem, saindo dali sacudi o pó sob vossos pés para testemunho. Em verdade vos digo: Mais tolerável será no dia da condenação para os de Sodoma e de Gomorra do que para aquela cidade. Era costume entre os judeus em cada cidade haver um encarregado que se ocupava da comida e vestuário dos peregrinos. Sacudir o pó das sandálias era um gesto que o israelita fazia ao voltar de terra pagã. Dado que a terra participa do caráter de seus habitantes, despedir-se dos ímpios, comporta liberar-se também de seu pó. Sacudir o pó das sandálias não era uma maldição, mas um testemunho de que tal cidade era comparada a uma cidade pagã. Mas o final dessa cidade e de seu povo será o mesmo que Jesus anuncia contra as cidades em que tantos milagres foram feitos e que não se converteram. Se o destino das cidades é igualado, também é igualada a missão dos apóstolos e a missão de Jesus.

E tendo saído pregavam para que se convertessem. Embora Marcos não tenha narrado como Mateus que foram enviados para proclamar que o Reino estava às portas ou como Lucas diz para proclamar o Reino de Deus e curar os doentes, agora Marcos nos dá uma idéia de qual era o fim da missão apostólica. O arrependimento foi uma constante da pregação do Batista, do início da pregação de Jesus aos judeus, da proclamação de Pedro logo após a manifestação de Pentecostes. Mas quando se dirigem aos pagãos só pedem a fé.

E lançavam muitos demônios e ungiam com óleo muitos adoentados e saravam. O caso dos demônios é único aqui em Marcos, e também é única a narração de que ungiam os enfermos com óleo e sanavam. Deste resultado da missão também se tornam testemunhas tanto Mateus como Lucas. Porém, será Tiago quem de novo falará sobre a unção como uso corrente entre os membros da Igreja. Aqui está a base do sacramento da Unção aos Enfermos. A expulsão dos demônios (seja qual for a natureza dos tais) e a cura dos doentes eram a prova de que os apóstolos eram enviados por um ser superior às forças humanas. Como no caso de Pedro, a cura do aleijado deu ocasião para suscitar a fé nos presentes, e de se reafirmar na rejeição de Jesus pelos culpados. Também as curas eram a base da conversão ao Evangelho dos cidadãos presentes.
Fonte Canção Nova

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A PROVA DE SER FILHO DE DEUS Lc 8,19-21 - 22.09.2015


HOMILIA

“Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a mensagem de Deus e a praticam”. Ao declarar que todo aquele que faz a vontade de Deus é a sua família, Jesus não estava renunciando à sua família segundo a carne. Como filho mais velho, ele continuou a cuidar do bem estar da sua mãe. Isto foi comprovado quando, ao dar a sua vida na cruz, ele passou essa responsabilidade ao discípulo a quem ele amava. Simplesmente Jesus define claramente que o parentesco de ordem humana, seja a mãe, os irmãos ou irmãs que ele tinha, não tem qualquer significado no Reino de Deus.

O relacionamento mais próximo do Senhor Jesus é com o seu Pai, que está nos céus, o próprio Deus Pai. O único “parentesco” permanente que Ele pode ter é de ordem espiritual – e é com aqueles que fazem a vontade de Deus. A estes, Ele chama de meus irmãos.
Deixando de lado os laços sanguíneos, representado pelo parentesco segundo a carne com sua mãe e seus irmãos, o Senhor Jesus passará agora a ampliar o seu ministério a todos aqueles que o receberem, sem distinção entre judeus e gentios. Não se dará mais exclusividade a Israel, devido à sua incredulidade e rejeição.
O relacionamento segundo a carne passa a ser inteiramente superado por afinidades espirituais. A obediência a Deus é agora o fator predominante e definitivo para estabelecer tais afinidades, sem outra distinção qualquer.
O mesmo se aplica a todo aquele que recebe Cristo como o seu Senhor e Salvador. Ele disse: Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. Nosso relacionamento espiritual com Cristo produz um vínculo maior do que nosso parentesco de sangue.
Um aspecto muito importante que deve ser esclarecido é sobre os irmãos de Jesus. Há dias uma das assíduas comentadoras da homilia diária perguntava sobre este aspecto. Os irmãos de Jesus, como fica claro pelo próprio texto bíblico, eram filhos de Alfeu e sua esposa, e não de José e Maria. Em diversos lugares o Evangelho fala desses ‘irmãos’. Assim, S. Marcos e S. Lucas referem que ‘estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos que querem ver-te” (Mt 12, 46-47; Mc 3, 31-32; Lc 8, 19-20; e também em Jo 7, 1-10).
Toda a pessoa que pergunte sobre os irmãos de Jesus somente revela a sua ignorância da própria Bíblia. Até porque as línguas hebraica e aramaica não possuem palavras que traduzam o nosso ‘primo’ ou ‘prima’, e serve-se da palavra ‘irmão’ ou ‘irmã’.
Lê-se em Gênesis que ‘Taré era pai de Abraão e de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn 11, 27) que, por conseguinte, vinha a ser sobrinho de Abraão. Contudo, no mesmo Gênesis, mais adiante, chama a Lot ‘irmão de Abraão': “Disse Abraão a Lot: nós somos irmãos” (Gn 13, 8). Jacó se declara irmão de Labão, quando, na verdade, era filho de Rebeca, irmã de Labão (Gn 29, 12-15).
No Novo Testamento, fica claríssimo que os ‘irmãos de Jesus’ não eram filhos de Nossa Senhora. Os supostos ‘irmãos de Jesus’ são indicados por S. Marcos: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão e não estão aqui conosco suas irmãs?” Tiago e Judas, conforme afirma S. Lucas, eram filhos de Alfeu e Cléofas: ‘Chamou Tiago, filho de Alfeu… e Judas, irmão de Tiago” (Lc 6, 15-16). E ainda: “Chamou Judas, irmão de Tiago” (Lc 6, 16). Quanto a ‘José’, S. Mateus diz que é irmão de Tiago: “Entre os quais estava… Maria, mãe de Tiago e de José (Mt 27, 56). Em S. Mateus se lê: “Estavam ali (no Calvário), a observar de longe…., Maria Mágdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu”. Essa Maria, mãe de Tiago e José, não é a esposa de S. José, mas de Cléofas, conforme S. João (19, 25). Era também a irmã de Nossa Senhora, como se lê em S. João (19, 25): “Estavam junto à Cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria (esposa) de Cléofas, e Maria Madalena”. Simão, irmão dos três outros, ‘Tiago, José e Judas’ são verdadeiramente irmãos entre si, filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Alfeu ou Cléofas é o pai deles.
Da mesma forma, se Nossa Senhora tivesse outros filhos, ela não teria ficado aos cuidados de S. João Evangelista, que não era da família, mas com seu filho mais velho, segundo ordenava a Lei de Moisés. Eis um dilema sem saída para os protestantes, pois os ‘irmãos de Jesus’ são filhos de Maria de Cléofas e Alfeu.
Também decorre uma pergunta: Por que nunca os Evangelhos chamam os ‘irmãos de Jesus’ de ‘filhos de Maria’ ou de ‘José’, como fazem em relação à Nosso Senhor? E por que, durante toda a vida da Sagrada Família, apenas conta-se três membros: Jesus, Maria e José?
Portanto, a própria Sagrada Escritura demonstra que os supostos ‘irmãos’ de Jesus são seus primos e não seus irmãos carnais. Sua afirmação de que o trecho de S. Mateus tem duas passagens, uma referindo-se à filiação carnal e a segunda à filiação espiritual fica sem sentido, visto que não conferem com o texto bíblico. Até porque o parentesco de sangue não é sequer mencionado pelos seus irmãos nas cartas que escreveram e que se encontram no Novo Testamento, indicando que não davam valor a isso. Ao invés disso, eles se dizem servos de Jesus Cristo.
Pai, que minha condição de membro da grande família do Reino se expresse no meu modo de proceder. Pela disposição a amar, quero dar provas de ser teu filho.
Fonte Canção Nova

domingo, 20 de setembro de 2015

JESUS E O PECADOR Mt 9,9-13 - 21.09.2015


HOMILIA

O Evangelho de hoje nos diz que Jesus viu primeiro. Referindo-se a Mateus, é vê-lo na sua situação cotidiana: Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos. Mas o olhar de Jesus é capaz de ir além do que um simples olhar enxerga de um judeu cobrador de impostos. Ele reconhece em Mateus um filho muito querido de Deus, e isso é o que Ele comunica primeiro para o cobrador de impostos. Seu olhar sobre Mateus está carregado da ternura e misericórdia de Deus Pai-Mãe, que cura as feridas e perdoa os pecados, amando-o incondicionalmente.
Enganamo-nos achando que somente os que já vivem cumprindo os mandamentos têm primazia no reino dos céus. Entendemos que os grandes pecadores, isto é, os que cometem barbaridades não têm mais chances com Deus por causa das suas grandes transgressões. Jesus Cristo, neste Evangelho vem nos dizer justamente o contrário: “eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”. Ele compara o pecador àquele que está doente e, por isso, precisa de médico para ser curado. Todos nós precisamos de médico, pois somos doentes, pecadores. Portanto, Jesus Cristo é o médico que foi enviado pelo Pai para nos devolver a saúde.
Por isso, Ele nos chama e nos atrai para si, mesmo que estejamos “sentados na coletoria de impostos” com a mente cheia de interesses pecaminosos e com mil planos para colocar em ação. Jesus nos vê e se apieda do nosso coração doente e nos chama com autoridade: “Segue-me”! Quando escutamos a Sua Palavra que nos chama, nós não conseguimos mais ficar parados no mesmo posto. Como Mateus, nós também nos levantamos e O seguimos. O seguimento de Jesus nos leva, então, a negar tudo o que o mundo nos ensinou e a assumir compromisso com uma vida digna de filhos e filhas de Deus. Jesus chama os pecadores, a sua missão é esta. Em qualquer lugar ou situação em que nos encontremos Ele nos faz o convite para segui-Lo, no entanto, Ele deseja ser convidado para entrar na nossa casa e levar para lá a salvação, não importando como esteja a nossa família. Ele não quer só a nós, Ele quer a todos.
Qual é a sua postura diante daqueles que são “pecadores públicos”? – Você acha que eles também têm direito a salvação? – Você se reconhece doente, necessitado de médico? – Jesus veio para você? – Você sente-se também julgado por alguém quando erra?
Senhor Jesus, faze-me trilhar o caminho da solidariedade, para que eu me aproxime daqueles aos quais deve ser levada a salvação.
Fonte PADRE BANTU MENDONÇA KATCHIPWI SAYLA

sábado, 19 de setembro de 2015

AS VERDADEIRAS CELEBRIDADES DO REINO Mc 9,30-37 - 20.09.2015


HOMILIA

No longo processo de sua formação, os discípulos foram sendo instruídos no modo de ser, característico de quem aderiu ao Reino. Jesus ensinou-os a serem solidários, a cultivar a união fraterna, a estarem sempre prontos para servir. Não tinham sido organizados a partir de critérios humanos de superioridade ou inferioridade, pois entre eles deveria reinar a igualdade.
As lições do Mestre nem sempre encontraram corações abertos para acolhê-las. Os discípulos mostravam-se reticentes em abrir mão de sua mentalidade. Daí a preocupação em saber quem, dentre eles, seria o maior. Ou seja, quem teria autoridade sobre os outros; quem seria mais importante objeto da reverência e do respeito dos demais. Tudo ao inverso do que lhes fora ensinado!
E então, Jesus resume, numa frase, um princípio de ação que deveria nortear a vida do discípulo: "Quem quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos". Esta era sua pauta de ação. Ele se apresentava como Servo, e sua vida definia-se como serviço a todos, sem distinção.
Ele nunca esteve em busca de grandezas, muito menos reduziu os discípulos à condição de escravos seus. Não se preocupou em granjear a estima e a reverência alheias, a qualquer custo. Simplesmente seguiu o seu caminho de servidor, esforçando-se por satisfazer as carências e os sofrimentos humanos. Apresentou-se como exemplo a ser imitado!
Vivemos dias de muita insegurança e decepções, com respeito ao comportamento das pessoas. É muito comum, hoje, talvez muitos influenciados pelos meios de comunicação social em geral, a vontade incontestável de crescerem socialmente, subirem na vida, mas não no sentido espiritual e sim material, para se tornarem “celebridades”. A busca de glória, fama, cargo. Tudo isso porém, só se pode satisfazer plenamente quando for estruturado na sua raiz, pelo que é bom, pelo que é honesto, alicerçado em Deus.
Tu que buscas a gloria humana saiba que a celebridade social é muito falsa, fingida e cheia de interesses anexos, que vão frustrando aqueles que a alcançou. Até porque, num piscar de olhos se acaba e, a pessoa se sente completamente só e ignorada por aqueles que a aplaudiam enquanto lhes interessava.
Para que isso, nesse trecho do evangelho de Marcos, Jesus adverte os apóstolos que discutiam entre si, qual deles seria o maior, qual deles comandaria tudo após a partida do Mestre. E, Jesus lhes diz: “ Se algum de vocês quer ser o maior, seja o menor, seja o último, seja aquele que serve.” E, quando nos atemos às palavras de Jesus e procuramos segui-las , colocando-as em prática na nossa vida, descobrimos , que servir é mesmo melhor que ser servido.
Quando damos um presente como sinal de uma grande amizade, sentimo-nos plenamente realizados, só em sentir a alegria e contentamento de quem o recebeu; ele será, certamente, algo que nunca nos deixará esquecidos por aquele amigo, aquela família.
A doação sincera, seja ela material, na forma de presente, ou seja, espiritual, na forma de gesto ou palavra, de conselho, de companheirismo, realiza em nós, o gosto da presença de nosso Deus, que nos criou, principalmente, para amarmos a todos como Ele nos ama.
A realização pessoal verdadeira, não é essa que faz das pessoas celebridades sociais com tempo muito curto de glória, mas sim, aquela que nos realiza como verdadeiros seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus. Os apóstolos tornaram-se verdadeiras celebridades para as coisas de Deus. Todos simples, sem estudos nem preparo, foram chamados por Jesus e capacitados para o trabalho de divulgar a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo e, atravessaram o mundo inteiro e são e serão até o fim dos tempos as verdadeiras celebridades, simples, sem arrogâncias e nunca esquecidas. Tu e eu somos também chamados a sermos celebridades desde que na humildade, simplicidade, sem aspirações de grandezas e peçamos ao Pai do Céu que tire do meu e teu coração os ideais mundanos de glória, e nos coloquemos no verdadeiro
Fonte PADRE BANTU MENDONÇA KATCHIPWI SAYLA

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

QUE ESPÉCIE DE SOLO VOCÊ É? Lc 8,4-15 - 19.09.2015


HOMILIA

Jesus contou frequentemente, por parábolas, histórias sobre os acontecimentos do dia-a-dia que ele usava para ilustrar verdades espirituais. Uma das mais importantes destas parábolas é a que Lucas nos apresenta no dia de hoje. Esta história fala de um fazendeiro que lançou sementes em vários lugares com diferentes resultados, dependendo do tipo do solo. A importância desta parábola é salientada por Jesus em Marcos 4,13: Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas? Jesus está dizendo que esta parábola é fundamental para o entendimento das outras. Esta é uma das três únicas parábolas registradas em mais do que dois evangelhos, e também é uma das únicas que Jesus explicou especificamente. Precisamos meditar cuidadosamente nesta história.

O trabalho do semeador é colocar a semente no solo. Uma vez que a semente for deixada no celeiro, nunca produzirá uma safra, por isso seu trabalho é importante. Mas a identidade pessoal do semeador não é. O semeador nunca é chamado pelo nome nesta história. Nada nos é dito sobre sua aparência, sua capacidade, sua personalidade ou suas realizações. Ele simplesmente põe a semente em contato com o solo. A colheita depende da combinação do solo com a semente.

Aplicando-se espiritualmente, os seguidores de Cristo devem estar ensinando a palavra. Quanto mais ela é plantada nos corações dos homens, maior será a colheita. Mas a identidade pessoal dele não tem importância. Porque ele o faz em nome de Jesus! Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coIsa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento (1 Coríntios 3:6-7). Em nossos dias, o semeador tornou-se a figura principal e a semente é bastante esquecida. A propaganda das campanhas religiosas frequentemente contém uma grande fotografia do orador e dá grande ênfase ao seu nível escolar, sua capacidade pessoal e o desenvolvimento de sua carreira; o Evangelho de Cristo que ele se supõe estar pregando é mencionado apenas naquelas letrinhas, lá no canto. Não devemos exaltar os homens, mas sim, completamente ao Senhor!

A semente é a Palavra de Deus. Cada conversão é o resultado do assentamento do Evangelho dentro de um coração puro. A palavra gera, salva, regenera, liberta, produz fé, santifica e nos atrai a Deus. Como o Evangelho se espalhava no primeiro século, foi-nos dito muito pouco sobre os homens que o divulgaram, porém, muito nos foi dito sobre a mensagem que eles disseminaram. A importância das Escrituras deve ser ressaltada ao máximo.

Isto significa que o professor tem que ensinar a palavra. Não há substitutos permitidos. Frequentemente, pessoas raciocinam que haveria uma colheita maior se alguma outra coisa fosse plantada. Então, igrejas começam a experimentar outros meios, de modo a conseguir mais adeptos. Não é nosso trabalho analisar o solo e decidir plantar alguma outra coisa, esperando receber melhores resultados. A colheita do Evangelho pode ser pequena, mas Deus só nos deu permissão para plantar a palavra. Somente plantando a Palavra de Deus nos corações dos homens o Senhor receberá o fruto que Ele espera. Ou, usando uma figura diferente: as Escrituras são a “isca” de Deus para atrair o peixe que Ele quer salvar. Precisamos aprender a ficar satisfeitos com seu plano.

Aqui há uma lição para o ouvinte também. O fruto produzido depende da resposta à Palavra. É decididamente importante ler, estudar e meditar sobre as Escrituras. A Palavra tem que vir habitar em nós, para ser implantada em nosso coração. Temos que permitir que nossas ações, nossas palavras e nossas próprias vidas sejam formadas e moldadas pela Palavra de Deus.

Uma safra sempre depende da natureza da semente, não do tipo da pessoa que a plantou. Um pássaro pode plantar uma castanha: a árvore que nascer será um castanheiro, e não um pássaro. Isto significa que não é necessário tentar traçar uma linhagem ininterrupta de fiéis cristãos, recuando até o primeiro século. Há força e autoridade próprias da Palavra para produzir cristãos como aqueles do tempo dos apóstolos. A Palavra de Deus contém força vivificante. O que é necessário são homens e mulheres que permitam que a Palavra cresça e produza frutos em suas vidas; pessoas com coragem para quebrar as tradições e os padrões religiosos em volta deles, para simplesmente seguir o ensinamento da Palavra de Deus. Hoje em dia, a Palavra de Deus tem sido frequentemente misturada com tanta tradição, doutrina e opinião que é quase irreconhecível. Mas, se pusermos de lado todas as inovações dos homens e permitirmos que a Palavra trabalhe, podemos tornar-nos fiéis discípulos de Cristo justamente como aqueles que seguiram Jesus há quase 2000 anos atrás. A continuidade depende da semente.

É perturbador notar que a mesma semente foi plantada em cada tipo de solo, mas os resultados foram muito diferentes. A mesma Palavra de Deus pode ser plantada em nossos dias; mas os resultados serão determinados pelo coração daquele que ouve.

Alguns de nós somos solos de beira de estrada, duro, impermeável. Eles não têm uma mente aberta e receptiva para permitir que a Palavra de Deus os transforme. O Evangelho nunca transformará corações como estes porque eles não lhe permitem entrar.

As raízes das plantas, no solo pedregoso, nunca se aprofundam. Durante os tempos fáceis, os brotos podem parecer interessantes, mas abaixo da superfície do terreno, as raízes não estão se desenvolvendo. Como resultado, se vem uma pequena temporada seca ou um vento forte, a planta murcha e morre. Os cristãos precisam desenvolver suas raízes por meio da fé em Cristo e do estudo da Palavra cada vez mais profundo. Tempos difíceis virão, e somente aqueles que tiverem desenvolvido suas raízes abaixo da superfície sobreviverão.

Quando se permite que ervas daninhas cresçam junto com a semente pura, nenhum fruto pode ser produzido. As ervas disputam a água, a luz solar e os nutrientes e, como resultado, sufocam a boa planta. Existe uma grande tentação a permitir que interesses mundanos dominem tanto nossa vida que não nos resta energia para devotar ao crescimento do Evangelho em nossas vidas.

Então, há o bom solo que produz fruto. A conclusão desta parábola é deixada para cada um responder a esta pergunta. Que espécie de solo você é? Esta parábola, por um lado, revela a força divina da Palavra de Deus, e, por outro, convida os que a escutam a oferecerem à sementeira dela a terra de um bom coração.
Fonte Canção Nova

AS DISCÍPULAS DE JESUS Lc 8,1-3 - 18.09.2015


HOMILIA

Assim como Jesus chamou a Pedro e aos outros discípulos que o seguiam,  Jesus tinha um grupo de discípulas, formado de mulheres que o seguia por dois motivos: Primeiro, eram mulheres que foram curadas por Jesus, e em sinal de gratidão o seguiam para ajudá-lo em sua caminhada, pois eram mulheres ricas. Vejam que uma delas era nada mais nada menos a Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes. Não era fraca não! O segundo motivo destas mulheres seguirem Jesus, é que a situação da mulher naqueles tempos era de grande humilhação, inferioridade e discriminação por parte dos homens, não havendo nenhuma consideração de igualdade entre marido e mulher, muito pelo contrário a mulher servia apenas para procriar.

Jesus, como era contra todo tipo de discriminação e preconceito, defendia a igualdade da mulher em relação ao seu marido. Mais um motivo de gratidão daquelas mulheres para seguir o Mestre e o ajudar em sua caminhada. Assim, o grupo das discípulas de Jesus estava ligado a ele por laços de afeto e gratidão. Não se tratavam de fãs, nem de paquera, como alguém possa pensar.

Jesus aceita essa colaboração do grupo feminino, vendo isso de uma forma sadia e como uma ajuda muito bem-vinda. E essas mulheres são tratadas em pé de igualdade com os discípulos e sua tarefa consistia em prestar assistência a Jesus com seus bens, e, assim, aliviá-lo de certas preocupações materiais, inevitáveis para qualquer ser humano.

Comparando aquelas mulheres com as de hoje, percebemos que todo extremismo acarreta uma situação oposta.

Quanta confusão se criou à volta da figura da mulher, meu Deus! Esta confusão a respeito de Maria Madalena, bem como tantas outras do seu tempo, pode ter muitas causas. Uma delas pode ser uma leitura muito rápida dos textos bíblicos, ou mesmo um exemplo da pouca importância que se dá à memória do discipulado das mulheres. Até pode ser que a intenção tenha sido a de buscar na figura de Madalena, por exemplo, como uma pecadora arrependida um apelo à conversão, mostrando como todos os pecados podem ser perdoados quando a pessoa se arrepende. No entanto, parece haver uma intenção menos explícita, parecida com estas propagandas que hoje se faz através das novelas. De maneira sutil, a deturpação da figura de Maria Madalena mantém uma velha atitude de suspeita em relação às mulheres, passando a idéia de que sua natureza e seus corpos são espaços perigosos, de possessão demoníaca, identificada com pecado. Os corpos inferiorizados e culpabilizados são mais facilmente submetidos.

Desta maneira, a discípula fiel, que acompanhou Jesus durante sua vida pública, a amiga e companheira que esteve presente na crucifixão e que permaneceu diante do túmulo; aquela que fez a maravilhosa experiência da ressurreição, podendo afirmar com toda a convicção: “Vi o Senhor!”, foi transformada em pecadora arrependida. Mesmo que esta deturpação da figura de Maria Madalena não fosse muito consciente, ela é um desvelamento do medo que o diabo tem de perder o poder. Se a tradição da discípula e apóstola permanecesse, haveria o perigo de que as mulheres descobrissem a sua importância nas origens do Cristianismo e se sentissem animadas a assumir com autoridade, dignidade e pleno direito seus espaços de reflexão, decisão e também no ministério ordenado das igrejas cristãs. Estariam lado a lado com os homens, mantendo a memória fiel de Jesus de Nazaré, fazendo circular o amor pleno e sem medo, exercendo o poder de defender e fortalecer a vida.

Para contrastar a situação de inferioridade da mulher em relação ao homem, gerou-se o movimento de libertação feminina que, analisado nos mínimos detalhes, resultou em um movimento de desvalorização feminina. Isto porque, libertação feminina não pode ser interpretada como libertinagem feminina. Constantemente vemos garotas dizendo e gritando palavrões pela rua. Certamente, isto não é libertação feminina, mas sim desvalorização da menina.

Por outro lado, ser livre, não é ser promíscua, não é fazer o que lhe vem na cabeça. Ser livre não é fugir do casamento, fugir de construir uma família, e botar filhos no mundo sem pensar nas consequências. Não tenho nada contra estas meninas que agem assim, pois elas não têm culpa, pois são vítimas de uma mídia que as ensinou que liberdade da mulher significa vulgarizar a mulher.

A mulher não tem de ser submissa nem de ser vista como objeto de prazer, ou de procriação. Mas precisa se valorizar, e ser valorizada pela sociedade. Precisa ser tratada em pé de igualdade pelos homens. Mãe solteira não pode ser discriminada, pois são nossas irmãs em Cristo e precisam ser acolhidas, orientadas e se possível, evangelizadas. Desse jeito, estamos dando à mulher, o valor que ela merece, assim como nós gostaríamos que fosse tratada a nossa mãe. E não nos esqueçamos que sempre atrás de um grande homem, está sempre uma grande mulher.

Pai, reveste-me do amor e da fidelidade necessárias para ser servidor do Reino. Que eu demonstre meu reconhecimento a Ti, colocando minha vida a serviço do meu próximo.
Fonte Canção Nova

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

FÉ E A MISERICÓRDIA DE JESUS Lc 7,36-50 - 17.09.2015


HOMILIA

A Liturgia de hoje nos fala da misericórdia de Deus que perdoa o pecador arrependido, na pessoa da mulher anônima. Anônima para dizer que esta pode ser eu, pode ser você, quando se arrependidos voltarmos para Deus implorando a sua misericórdia e perdão.

Jesus aceita comer na casa do fariseu, onde, de repente, aparece uma mulher pecadora, prostituta, portanto, excluída da sociedade dos bons, por dois motivos: por ser mulher e por exercer a profissão mais antiga do mundo. Ninguém a convidou, mas todos a conhecem.

O fariseu julga e condena Jesus e a pecadora. Jesus reage e conta a história dos dois devedores perdoados. “Teus pecados estão perdoados”. E a reação dos convidados? “Quem é este que perdoa os pecados?”.

Jesus não tinha medo das pessoas mal-afamadas. É perigoso julgar-se justo a si mesmo. É preferível que Deus nos julgue justos a sermos considerados justos diante dos homens. Diante de Deus são justos os que reconhecendo as suas falhas, erros e os seus pecados arrependidos e humilhados, dobram os seus joelhos pedindo perdão a Deus, e então, recebem o seu perdão. Para estes não tarda a resposta de Deus na pessoa do Filho: Tua fé te salvou. Vai em paz. Jesus diz ao fariseu: “Seus muitos pecados lhe são perdoados porque muito amou”. Simão, poderíamos dizer, é o que deve 50 denários e a mulher 500.

A pecadora já se sente perdoada. Para o fariseu, aquela mulher é pecadora e pronto. Não tem o direito de aproximar-se de ninguém. Ele cumpre a lei, ela não. Por isso pode condená-la. Jesus perdoou a mulher diminuída em sua dignidade. Põe uma condição: “não peques mais”. E ela não pecou mais, tornou-se santa. Jesus deixa claro que o perdão é dom gratuito de Deus e o pecador arrependido expressa, através do amor, a acolhida do perdão. Feliz aquele que experimenta o amor e a misericórdia, como Davi e a mulher sem nome do evangelho de hoje. Ninguém pode julgar o amor que está dentro do homem, no seu arrependimento, na sua dor. A nós é pedida a misericórdia, só a misericórdia. Façamos esta experiência. Cada um reza a seu modo: ela, no silêncio e lágrimas. Você que se considera justo louve e agradeça a Deus. Todavia vigilante para não se julgar o todo poderoso diante dos outros que erram e falham. Saiba que à mulher do evangelho foi-lhe restituído um coração novo: “Tua fé te salvou”.

Jesus é o nosso modelo de aproximação dos pecadores. Ele foi compassivo e misericordioso porque veio para curar os doentes; veio para buscar os perdidos; veio para libertar os cativos. Observe que Jesus foi muito mais duro com os religiosos do que com os pecadores.

Ao se defrontar com determinadas situações, procure imitar a Jesus Cristo, procure entender como Ele agiria se estivesse em seu lugar. Pense nas características da graça: ela não discrimina porque Jesus não salva baseado em nossos méritos, mas sim no seu coração cheio de compaixão e misericórdia. Não olhe para o que a pessoa é; mas o que Deus pode fazer na vida dela. Lembre-se que a fé é o instrumento que Deus usa para aplicar em nós a sua graciosa salvação e esta é um dom de Deus.

Pense que o maior pecador, pode vir a ser o melhor pregador. O exemplo da mulher samaritana que de pecadora, se transformou em evangelista ao chamar a cidade para ouvir a Cristo. Lembre-se: o incrédulo de hoje, pode ser o seu irmão amanhã! Você não conhece os caminhos nem os pensamentos de Deus. Por isso, devemos estar atentos para que as nossas posições não nos coloquem em um lado oposto ao que Cristo está sendo em juízo dos outros.

Pai, faça-me nutrir um amor tão entranhado a Jesus a ponto de não ter vergonha de manifestá-lo em nenhuma circunstância, mesmo correndo o risco de ser mal-compreendido e a usar de misericórdia e compaixão para com os meus irmãos e irmãs.
Fonte Canção Nova

terça-feira, 15 de setembro de 2015

GERAÇÃO MÁ E INGRATA Lc 7,31-35 - 16.09.2015


HOMILIA

Jesus Cristo está diante da multidão que o cerca para ouvi-lo pura e simplesmente sem saberem qual deve ser o grau de pertença ao reino de Deus. Engraçado é notar que as pessoas que o escutavam eram de renome na matéria da religião. Eram chefes religiosos do Judaísmo.

Jesus começou assim a sua pregação: “Convertei-vos porque o Reino dos céus está próximo” (Mt 4,17). João Baptista, seu precursor, tinha começado da mesma maneira: “Convertei-vos, porque o Reino dos céus está próximo” (Mt 3,2). E agora o Senhor censura-os porque eles não querem converter-se, quando o Reino dos céus está próximo, este Reino dos céus do qual Ele próprio disse que “não vem de maneira visível e também que ele está no meio de vós” (Lc 17, 20-21).

Na parábola, o Mestre compara a geração a um grupo de crianças que tenta se comunicar com outro grupo, com brincadeiras de alegria ou de tristeza, porém o outro grupo não corresponde, fecha os olhos, a boca e ouvidos para não ouvir, falar e ver acabando por rejeitar todas  as tentativas de diálogo com as outras. Por isso: “com quem posso comparar as pessoas de hoje? Com quem elas são parecidas?”

A pequena parábola dos dois grupos de crianças que disputam nas praças é dirigida a “esta geração”. Esta expressão indica uma censura ao povo de Israel de coração duro, conforme a tradição profética. Mas não só! Assim como Jesus censurou a geração do tempo de João Batista assim continua falando hoje: “A quem hei-de comparar esta geração. Nós tocamos músicas de casamento, mas vocês não dançaram! Cantamos músicas de sepultamento, mas vocês não choraram”. Estamos diante de pessoas que se alegram com o sofrimento dos outros. Não conseguem chorar com os que choram, sorrir com os que sorriem, comer com os que comem, viver com os que vivem. Uma sociedade fechada no seu casulo. As pessoas só pensam nos seus interesses e não querem saber nada sobre os outros. O bem, a confiança, a justiça, a fraternidade, a comunhão, o amor, o respeito pela pessoa e pelo que é alheio desapareceram entre as pessoas. Muitos homens e mulheres não querem converter-se, não querem abandonar a vida do pecado.

Ao João Batista de hoje que faz o seu anúncio da conversão de maneira austera, como um asceta, é chamado de louco. E os ministros sagrados que agem na pessoa de Jesus, que na simplicidade, humildade e solidariedade se abeiram do pobre, do excluído, doente e abandonado chamam-os de pecadores e publicanos, de “comilão e beberrão”.

A sociedade se esquece que, para Jesus o Reino dos céus é para os simples e humildes, que Jesus chama de pobres em espírito. A razão é porque os pobres, pecadores e excluídos, não são escravos da riqueza e do poder, e consequentemente, acolhem o convite à conversão tanto feita por João Batista quanto por Jesus e continuada pelos discípulos e missionários de Jesus Cristo.

Que você meu irmão, minha irmã, tenha a prudência de aceitar as advertências de Jesus, para não deixar escapar e passar o tempo da sua missão, este tempo no qual estamos, durante o qual Ele poupa mais uma vez a tua vida. Ela é poupada, é para que te convertas, e que ninguém seja condenado. Porque não sabes quando virá o fim do mundo deves viver o tempo da graça, o tempo da salvação, o tempo da fé. Caso contrário, Jesus gritará bem alto nos teus ouvidos: “com quem posso comparar esta geração?”

Pai, purifica-me de toda forma de orgulho que me leva a desprezar meu semelhante e a julgar-me superior a ele. Como Jesus, desejo estar próximo de quem se afastou de ti.
Fonte Cação Nova

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Uma espada traspassará tua alma - 15.09.2015


HOMILIA

Hoje, na festa de Nossa Senhora, a Virgem das Dores, escutamos palavras pungentes de boca do ancião Simeão: «E a ti, uma espada traspassará tua alma!» (Lc 2,35). Afirmação que, no seu contexto, não aponta unicamente à paixão de Jesus Cristo, senão que ao seu mistério, que provocará uma divisão no povo de Israel e, por conseguinte uma dor interna em Maria. Ao longo da vida pública de Jesus, Maria experimentou o sofrimento pelo fato de ver a Jesus rejeitado pelas autoridades do povoado e ameaçado de morte.

Maria, como todo discípulo de Jesus, teve de aprender a colocar as relações familiares em outro contexto. Também Ela, por causa do Evangelho, tem que deixar ao Filho (cf. Mt 19,29), e há de aprender a não valorizar a Cristo segundo a carne, ainda quando tinha nascido dela segundo a carne. Também Ela há de crucificar sua carne (cf. Ga 5,24) para poder ir se transformando a imagem de Jesus Cristo. Mas, o momento forte do sofrimento de Maria, no que Ela vive mais intensamente a cruz, é o momento da crucificação e a morte de Jesus.

Também na dor, Maria é modelo de perseverança na doutrina evangélica ao participar nos sofrimentos de Cristo com paciência (cf. Regra de São Bento, Prólogo 50). Assim tem sido perante sua vida toda e, sobre tudo, no momento do Calvário. Assim, Maria transforma-se em figura e modelo para todo cristão. Por ter estado estreitamente unida à morte de Cristo, também está unida a sua ressurreição (cf. Rm 6,5). A perseverança de Maria na dor, fazendo a vontade do Pai, lhe dá uma nova irradiação no bem da Igreja e da Humanidade. Maria nos precede no caminho da fé e do seguimento de Cristo. E o Espírito Santo nos conduz a nós a participar com Ela nessa grande aventura.
Fonte Comentário: Dom Josep Mª SOLER OSB Abade de Montserrat (Barcelona, Espanha)

domingo, 13 de setembro de 2015

SENTIDO DA CRUZ Jo 3,13-17 - 14.09.2015


HOMILIA

O valor tão elevado que atingem certos objetos está relacionado diretamente com a importância da pessoa que o usou. Em si mesmos, seu valor é infimamente menor. Assim, a festa de hoje não teria nenhum valor para nós, se o Cristo não tivesse se doado por amor e por nosso resgate, derramando sua vida em nosso favor. Com certeza, haverão aqueles que, sem entender o verdadeiro sentido, acusar-nos-ão de estarmos adorando um objeto no lugar de Jesus. A estes irmãos advirto que o lenho da cruz, assim como os santos e até Maria, não teriam para nós nenhum sentido, se não fosse pelo Cristo que experimentaram e pelo qual se doaram, deixando-nos o exemplo de que sim, é possível, que criaturas imperfeitas e pecadoras – pela sua graça – alcancem méritos diante de seu Criador.

A festa da Exaltação da Santa Cruz é, portanto, como muito bem colocou frei Caetano Ferrari, a festa da Exaltação do Cristo vencedor da morte e do pecado por seu corpo dado e sangue derramado no alto da cruz. Para o Cristianismo a cruz é o símbolo maior de fé, com cujos traços todos nós nos persignamos desde o momento do levantar até o deitar a cada dia. Na cerimônia batismal o primeiro sinal de acolhida à criança recém-nascida é o sinal-da-cruz traçado em sua fronte pelo Padre, pais e padrinhos, sinalando-a para sempre com a marca de Cristo. Desde os tempos antiqüíssimos, a Igreja passou a celebrar, exaltar e venerar a Cruz, inclusive, como símbolo da árvore da vida que se contrapõe à árvore do pecado no paraíso, e símbolo mais perfeito da serpente de bronze que Moisés levantou no deserto para curar os israelitas picados pelas cobras porque o Filho do Homem nela levantado cura o homem todo e todos os homens, o corpo e a alma dos que n’Ele crêem e lhes dá a vida eterna.
No Evangelho de hoje Jesus retoma esses símbolos do passado bem conhecidos pelo povo (serpente, árvore, pecado, morte) para dizer que, no lugar da serpente de bronze pendurada no alto de um poste de madeira, Ele mesmo é quem seria levantado no lenho da cruz. Se o pecado e a morte advieram da insídia e veneno do demônio, nos símbolos da árvore proibida e da serpente do paraíso e do deserto, a bênção, a salvação e a vida eterna advêm do Cristo levantado no alto da cruz de onde Ele atrai a si os olhares de toda a humanidade.
Eis porque a Igreja canta na Liturgia Eucarística da festa: Santa Cruz adorável, de onde a vida brotou, nós, por ti redimidos, te cantamos louvor! E na Liturgia das Horas: Mais altaneira do que os cedros, ergue-se a Cruz triunfal: não traz um fruto de morte, traz a vida a todo mortal.
SENHOR JESUS, NESTA FESTA EM QUE EXALTAMOS O MADEIRO NO QUAL RESTAURASTES NOSSO CONVÍVIO HARMONIOSO COM O PAI, TE PEÇO QUE, ENQUANTO CAMINHO NESTE MUNDO, CERCADO POR PROBLEMAS, DORES E DISTRAÇÕES, NUNCA ME ESQUEÇA DO TEU SACRIFÍCIO POR MIM E, DA MESMA FORMA, QUE TU NÃO REJEITASTE A TUA CRUZ, MAS A LEVASTE ATÉ AO FIM. QUE CONTIGO EU APRENDA A NÃO FUGIR DELA MAS, PEDIR FORÇAS À DEUS PAI PARA ME DOAR AOS MEUS IRMÃOS NAQUILO QUE ESTIVER AO MEU ANCANCE, ATÉ QUE UM DIA POSSA CONTIGO CANTAR O ETERNO HINO DE LOUVOR LÁ NO CÉU ONDE VIVEIS E REINAIS COM O PAI NA UNIDADE DO ESPÍRITO SANTO. AMÉM!
Fonte Canção Nova

sábado, 12 de setembro de 2015

A AFIRMAÇÃO DE PEDRO Mc 8,27-35 - 13.09.2015


HOMILIA

Estamos hoje exatamente no coração do Evangelho de Marcos. E de novo, aparece a o tema da identidade de Jesus, Cristo, Filho de Deus. Ele tem uma identidade rica e misteriosa, que, desde o início ao fim, o evangelista Marcos quer revelar gradualmente a todos nós. O texto de hoje, no capítulo 8, contém a resposta radiante de Pedro, que se destaca das opiniões correntes entre a gente: as grandes figuras religiosas do passado são superadas, visto que Jesus de Nazaré é o Messias, o Cristo. Na sua simplicidade e brevidade, Marcos condensa a revelação de Jesus nas palavras de Pedro: «Tu és o Messias».

Para Marcos, Jesus entrou numa etapa nova: deixa as multidões da Galileia, quer dedicar mais tempo à formação dos seus discípulos e começa com a revelação da sua dupla identidade de Messias e de Servo sofredor, duas realidades inalcançáveis pela mente humana por si mesma. Pedro com dificuldade consegue colher a verdade de Jesus Messias-Cristo, mas tropeça totalmente na realidade do Messias-Servo que «devia sofrer muito… ser morto e ressuscitar». Pedro arma-se inclusive em mestre de Jesus, repreende-o por aquele tipo de discurso, a ponto de Jesus o censurar duramente, convidando-o a tomar o lugar que lhe compete, atrás de Jesus: o discípulo caminha atrás do Mestre, segue os seus passos. Sobre o tema do sofrimento e da cruz, Pedro é prisioneiro da mentalidade corrente. Pensa «segundo os homens»; só mais tarde, quando vier o Espírito, chegará a pensar «segundo Deus».
«Tu não compreendes segundo Deus, mas segundo os homens»: é a advertência severa de Jesus a Pedro e aos discípulos de então e de todos os tempos. Uma advertência que petrifica qualquer forma de religiosidade acomodada e retórica. Um convite desconcertante a percorrer o caminho estreito da humildade e da austeridade: deixar de pensar apenas em si mesmos, tornar-se responsáveis pelos outros, partilhar a opção de Jesus que aceitou, por amor, a própria morte, para que todos tenham a vida em abundância (Jo 10,10).
Você e eu somos chamados ao discipulado e a missão. Mas isso só será possível se como Pedro reconhecermos e compreendermos a verdadeira identidade de Jesus. Ele nos propõe as “coisas de Deus”, a comunicação da vida sem limites. Não nos podemos ater às “coisas dos homens” à exemplo de Pedro, à preservação do poder e à paz da ordem iníqua estabelecida. Jesus está nos chamando e nos apresenta a proposta de seu seguimento. A vida de cada um, ao ser doada em comunhão com outras vidas, em ações concretas nos alcançará a salvação, isto é, se insere e permanece no seio de Deus, na eternidade.
Senhor Jesus, revela-me sempre mais tua face de Messias Servo, para que eu não me engane no caminho do teu seguimento.
Fonte Canção Nova

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

DAÍ-ME A GRAÇA DE SER A ÁRVORE BOA Lc 6,43-49 - 12.09.2015


HOMILIA

Lucas inicia o seu evangelho com a proclamação das bem-aventuranças que termina com as três parábolas sobre árvores e frutos, sobre o tesouro do coração e sobre as casas construídas. O pano de fundo desta parábola é a conversão, a renovação da vida pessoal. Deus não nos criou para a obediência cega, mas para a liberdade criativa, no empenho da renovação do mundo, com a implantação da justiça e tecendo a paz. Pela conversão, a pessoa abandona os falsos valores oferecidos pelo mundo dos poderosos e adere ao projeto de vida de Jesus.

Realmente não existe árvore boa que produza frutos ruins, nem árvore má que dê frutos bons. Portanto, pelo fruto se conhece a árvore. Que tipo de árvore és tu? É pelas suas ações e atitudes que se conhece se alguém é bom ou mau. Quem tem a trave no olho é árvore má: não pode dar bons frutos nem pode converter os outros, como nós ouvimos no texto de ontem, senão somente escandalizá-los com seu mau procedimento. Ninguém pretende colher figos de um espinheiro, nem se apanham uvas de urtigas. Da mesma forma, como pretenderá alguém corrigir outros se ele mesmo leva uma vida desregrada? O homem bom diz e tira sempre o bem do depósito de boas ações que constituem o tesouro do seu coração como raiz de uma árvore. Mas o homem mau diz coisas más porque há maldade em seu coração. Pois a boca fala daquilo de que está cheio o coração.

Por que vocês invocam Senhor, Senhor, e não praticam o que lhes peço? A fé deve ser comprovada pelas obras para vocês não se tornarem guias cegos ou árvores infrutíferas. Vou mostrar-lhes a quem é comparável todo homem que vem a mim crendo, escuta de coração aberto a minha Palavra e a põe em prática. É semelhante a um homem que, ao construir sua casa, cavou bem fundo e assentou os alicerces na rocha. Vieram as enchentes, precipitaram-se contra aquela casa da vida, e ela não desabou por estar bem construída sobre a Rocha. Assim, aquele que ouve as minhas palavras e as pratica não abala sua estrutura religiosa interior com as tempestades e enchentes da vida, porque tem seus alicerces em mim. Aquele, porém, que ouve as minhas palavras e não as põe em prática na vida é semelhante ao homem que construiu sua casa ao rés do chão, sem o devido alicerce. Quando as águas das enchentes vieram contra essa casa, ela desabou. E sua ruína foi total. Assim, aquele que não fundamenta sua vida em mim, quando lhe surgem problemas, cai no desequilíbrio e na desgraça.

Neste texto Jesus se dirigiu e se dirige especialmente à hipocrisia e à malícia interior dos fariseus  e nossa que nos julgamos perfeitos e seguimos somente para contradizê-lo e molestá-lo. E que aplique a nós o ensinamento dessas duas casas. As casas representam a nossa vida: só se constrói uma vez. Por isso, salvação ou condenação – isto é, casa da vida sobre a rocha ou sem alicerce – se decide neste mundo pela vivência ou não da Palavra do Senhor no Evangelho.

Quem apenas ouve, mas não segue, não terá forças para resistir às enchentes dos problemas e sofrimentos da vida, e sofrerá tremenda catástrofe no julgamento final. Todos os esquemas de vida que não levam em consideração a realidade essencial que é Os professores da Lei julgavam boa a ação se fosse conforme à Lei. Jesus exige que ela venha de um bom interior. O coração é a fonte dos sentimentos, que geram pensamentos, palavras, ações, e é a sede das decisões. Palavras e obras revelam o interior da pessoa, desmascaram o coração como os frutos mostram a qualidade da planta. Consciência em ordem e coração que transborda o bem são pressuposições para quem exerce qualquer apostolado. Nosso tesouro interior será bom se a Palavra de Jesus tomou posse do coração. Não podemos chamar Jesus de Senhor se não vivermos a sua Palavra.

Então sua ação será fecunda e vivificante. É a casa construída sobre a rocha. Uma vida colocada a serviço do próximo, com seus frutos de amor e de misericórdia, permanece para toda a eternidade. Por isso, daí-me Senhor a graça de ser uma boa árvore que produza bons frutos para os meus irmãos e irmãs.
Fonte Canção Nova

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

UM CEGO NÃO PODE GUIAR OUTRO CEGO Lc 6,39-42 - 11.09.2015


HOMILIA

Caro irmão e irmã, muitas vezes nós nos convertemos em especialistas em corrigir as pessoas. Em apontar os seus erros como se fôssemos perfeitos?  Fazemos cara e assumimos posturas de quem gere,  da direção, do comando. Tornamos-nos santos e perfeitos diante dos erros e falhas dos outros. Nem sempre nos preocupamos em corrigir nossos próprios defeitos, e apresentamos como modelo de perfeição que deve ser seguido pelos demais. No evangelho de hoje Jesus está denunciando essa nossa pretensão inconsequente. A pretensão de querer guiar os outros, sem estar apto para isto. Assim nos convertemos em cegos querendo guiar os outros cegos. Deixa que eu vou te guiar. Vem comigo que eu te levo até lá. Vão é cair no próximo buraco.

Outro grande defeito nosso é a grande capacidade de perceber as limitações e os pecados das outras pessoas. Reparou que nas brincadeiras entre nós constantemente estamos mostrando os defeitos dos pais, do marido, da esposa e dos filhos ou colegas? Principalmente se temos inveja de alguém.  Na rodinha da conversa durante o almoço, durante o intervalo, a tônica é apontar brincando, é claro, os defeitos e as coisas erradas que os companheiros fazem.

Porém nos esquecemos da máxima de Jesus: não faças aos outros, o que não gostarias que te fizessem a ti. Portanto, tudo o que nós desejarmos das pessoas com quem nos relacionamos deverá ser regra de vida para nós. A ser assim, somos convidados a nos ajudar mutuamente na caminhada que fazemos em busca da perfeição. A nem um de nós cabe o papel de “mestre” e de “senhor” da situação, apenas ditando preceitos e normas para que os outros cumpram. É nosso dever, em primeiro lugar, examinar como estamos vivendo e qual o testemunho que nós estamos oferecendo ao mundo para que as outras pessoas sejam guiadas por nós. Se, estamos cegos e não reconhecemos as nossas próprias falhas; se, não buscamos emendar o que está torto em nós, nunca poderemos nós, aconselhar, exortar ou admoestar alguém que também é passível de erro. A trave nos nossos olhos nos impede de enxergar as nossas fraquezas e limitações. Para tirá-la, nós precisamos pedir ao Espírito Santo que purifique os nossos pensamentos, sentimentos e as nossas atitudes. Do contrário, Jesus nos lembra, nós poderemos cair no barranco e levar muita gente conosco. Porque não fazemos isso, é que muitos se decepcionam conosco e têm a sua fé enfraquecida se afastando do convívio da comunidade e culpando a Deus pelas nossas incoerências. A começar em mim, eis a regra de ouro!

Você é responsável na condução de alguém? Como pessoa comprometida você tem conseguido ser um exemplo a ser seguido? Ou você é daqueles que dizem “façam o que digo e não faça o que eu faço”?

Pai, concede-me suficiente autocrítica que me predisponha a corrigir meu semelhante, sem incorrer na malícia dos hipócritas.
Fonte Canção Nova

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

AMAR OS INIMIGOS Lc 6,27-38 - 10.09.2015


HOMILIA

Dentre as perguntas mais difíceis de responder figuram estas: Será que no nosso dia a dia podemos dizer se o cristão tem inimigo? E se sim como pode ter inimigos se é discípulo de Jesus? Eis perguntas difíceis de responder quando Jesus nos convida a viver este Evangelho, pois esta é uma das missões mais sublimes do cristão. O Evangelho não pede para suportar ou conviver, nos é pedido para amar. Dom supremo e maior deixado por Jesus para que possamos buscar diariamente nossa santificação. Amar como Jesus amou. Quantas vezes fomos feridos na face e oferecemos a outra? Que situação difícil de enfrentar! Nosso desejo primeiro não é oferecer a outra, mas meter a mão na face do outro! Não é verdade?

Muitas vezes esse Evangelho nos faz ver um cristão passivo exteriormente, que não reage a insultos, a difamações e até aos maus tratos, porém, não é verdade meus irmãos, muito pelo contrário: este Evangelho nos faz altamente ativos espiritualmente, pois mexe com o nosso “EU”, exercitando os dons espirituais e as virtudes existentes dentro de cada um de nós, nos fazendo perfeitos como nosso Pai celeste é perfeito.

Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; Penso que se conseguirmos viver este versículo, já estamos num estágio de vivência cristã admirável. Esta mensagem mostra claramente o amor radical de Jesus e seu Pai, e que deve ser como um sinal dos cristãos. É um amor tão desmedido, que põe à prova os discípulos e nós também, pois é o amor incondicional, sem limites, o amor aos inimigos, que não pode ser compreendido nos padrões terrenos e que só acontece se estiver muito bem alicerçado na fé.

As expressões “amar”, “fazer o bem”, “dar”, aparece por três vezes no texto. “Amar, fazer o bem e emprestar”, é apenas uma boa política, um bom negócio. Para sermos bons cristãos, considerados filhos de Deus, é preciso mais, pois Sua medida, são nossas atitudes. Assim, como julgarmos, seremos julgados; como condenarmos, seremos condenados, mas também, como perdoarmos seremos perdoados. É neste contexto, onde Jesus nos chama à generosidade, que Ele chama também a Deus de PAI, pela primeira vez em sua vida pública, embora, no v. 35, esteja subentendido esse parentesco.

O Pai é nosso exemplo. Ser como Ele, é ser generoso, pois Ele não julga, não condena, perdoa as ofensas e dá sem medir custos. E nos ama com tanta intensidade, que jamais poderá ser superado. Estejam certos de que nunca poderemos retribuir tanta generosidade. Que todos unidos, façamos um esforço de fazer este mundo melhor através da palavra de Deus que é a verdadeira chave para abrir as portas do coração da humanidade. E como conseguiremos isso? Onde está o grande segredo desta chave? “Sede misericordiosos, como também nosso Pai celeste é misericordioso.”

Jesus nos chama a um ideal mais pleno, mais radical: AMAR O INIMIGO. Não há nada mais evangélico do que esta máxima de Lucas, certamente difícil de ser colocada em prática. Este ideal pressupõe naturalmente um uso da liberdade muito maduro: ser livre para amar não como eu quero, mas como Deus quer que nos amemos. Sem condições.

A partir da Ressurreição de Cristo e através dela o homem pode realizar este ideal, pois aí está a ESPERANÇA para tudo o que fazemos(Cf. 1Cor 15, 45-49). Amar a partir da Ressurreição é, na linguagem paulina e lucana, possuir uma carne nova, um corpo novo, é viver na força do Espírito que nos confere a graça para realizarmos este ideal evangélico do AMOR RADICAL, sem condições.

Amar quem nos ama, quem nos elogia, quem nos prestigia, é muito fácil. Todo jogo dos interesses passa por este tipo de relação. Mas amar quem nos prejudica, quem nos amaldiçoa, quem não corresponde às nossas expectativas, é mais difícil e impossível sem a graça de Deus. Por isso, antes de tudo, temos que viver o Intróito da Missa deste Domingo para depois vivermos o que nos pede Jesus no Evangelho de Lucas: “Domine, in tua misericórdia Speravi”. Esperar na misericórdia, nos diz o Salmista, é exultar pela Salvação, é cantar por tudo o que se nos acontece. O Salmo de Meditação após a Primeira Leitura (Sm 26,2.7-9.12-13.22-23) no-lo faz conhecer, atestar, confirmar. Misericórdia e Graça são as prerrogativas do nosso Deus.

É com esta Esperança do Salmo 102 que conseguimos ser plenamente livres para amar sem condições; é com este amor que somos verdadeiramente livres para imitarmos Aquele que nos amou de forma irrestrita e irrevogavelmente nos salvou. Jesus não só pregou o amor, mas Amou os seus que estavam no mundo, e os amou até o fim.

Assim o Cristo instaurou a Nova Criação para nós, e a Nova Criação é este ideal para o qual somos hoje convocados: amar criativamente, como Deus quer. Criar um mundo novo a partir deste Amor incondicional, radical, universal. Como Cristo se torna o Novo Adão, também nós nos tornamos, com o nosso amor. Esta é a Vida Nova e a beleza do Cristianismo que não existe em nenhum outro lugar. Peçamos a graça de buscar viver fraternalmente a alegria do Ressuscitado em nossas vidas!
Fonte Canção Nova

terça-feira, 1 de setembro de 2015

FELICIDADE E INFELICIDADE Lc 6,20-26 - 09.09.2015


HOMILIA

Lucas narra quatro bem-aventuranças proclamadas por Jesus, seguidas de quatro “ais” de advertência, diferentemente de Mateus que nos apresenta oito. Seja como for convém notar que ambos os textos nos situam em cima da montanha onde Jesus escolhe os seus Apóstolos e lhes apresenta o seu programa de ação. Anuncia-lhes o seu conteúdo: Felizes são vocês, os pobres, pois o Reino de Deus é de vocês. Felizes são vocês que agora têm fome, pois vão ter fartura. Felizes são vocês que agora choram, pois vão rir… Estas palavras foram vida e missão para os Apóstolos, são e o serão para todos os cristãos de hoje e de amanhã. É nossa missão tornar a sociedade antiga justa e digna, arrancando de seu meio, pela força do Evangelho, a miséria, a injustiça, a fome.

O cristão deve sentir e encontrar prazer e alegria nas perseguições pelo amor a verdade e a justiça do Reino. Pois será grande no céu a sua recompensa. A promessa é do próprio Jesus: Felizes são vocês quando os odiarem, rejeitarem, insultarem e disserem que vocês são maus por serem seguidores do Filho do Homem. Fiquem felizes e muito alegres quando isso acontecer, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês.

O cristão deve fazer tudo para derrubar todos os geradores dos males sociais. É preciso que ele dê a conhecer aos grandes que defender a causa do pobre é devolver-lhe a vida e a dignidade e não é a multiplicação de palavras. Porque ele não vive de explicações, filosofias e falação.

Jesus dirigi-se com freqüência à multidão para advertí-la sobre o que está por vir. No texto deste Evangelho se reflete com nitidez este tipo de comunicação. Como Mateus, Lucas nos apresenta uma nova versão das Bem-aventuranças: Felizes vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus…!

Digo “nova versão” por causa de algumas ligeiras diferenças quanto a ordem de colocações. Se Mateus faz da proclamação das Bem-aventuranças um bloco homogêneo de oito declarações pelo positivo, Lucas nos apresenta dois blocos: um de quatro bem-aventuranças, outro de outras tantas declarações de infelicidade, de imprecações: Mas ai de vocês que agora são ricos, pois já tiveram a sua vida boa.

Podemos dizer que se tratam de blocos opostos: aos pobres opõem-se os ricos; aos que têm fome contrapõem-se os que estão fartos. Além disso, o texto dá grande relevo à anáfora e ao paralelismo.

O paradoxo é bastante comum em S. Lucas e indica uma orientação importante do terceiro Evangelho: o radicalismo da força transformadora da sua mensagem. Há muita coisa desconcertante, inesperada neste Evangelho.

Felizes vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados! Saciados por quem? Saciados por Jesus a verdadeira comida e bebida. Aquele que nos abre para os novos tempos e por isso, nos faz firmes e fortes nesta espera. Quem espera no Senhor e não vacila nos momentos de amargura se torna bem-aventurado.

Jesus nos situa na perspectiva dos que buscam encontrar aqui na terra a felicidade seguindo os conselhos evangélicos e mantendo a esperança de um dia encontrá-la. Ser bem aventurado é ser feliz. As bem-aventuranças são estágios de vida que nos levam a ter o prenúncio das coisas celestes, da realidade do Céu. Quando nós seguimos as sugestões do Evangelho, nós perseguimos a plenitude da felicidade aqui na terra embora o mundo não possa entender. Portanto, ser pobre, passar fome, chorar, ser perseguido, odiado, insultado, amaldiçoado, são situações que, de acordo com a mentalidade do mundo, revelam infelicidade. Porém, quando vivemos na perspectiva de fazer a vontade de Deus essas coisas que nos acontecem servem de motivação para que nós experimentemos cada vez mais o poder e a força do Senhor na nossa vida. Ao contrário, as coisas que o mundo prega como lucro, a riqueza, a fartura, o riso fácil, o elogio, passam e não deixam nenhum vestígio de felicidade. É feliz aqui quem já espera a realização das promessas de Deus que plenamente serão cumpridas no Céu. O próprio Jesus nos garante: “Alegrai-vos e exultai, pois será grande a vossa recompensa no Céu”. A expectativa de que um dia contemplaremos a Deus e alcançaremos a plena felicidade, já é um motivo para que sejamos felizes aqui.

Você já meditou sobre as bem-aventuranças? Com qual bem-aventurança você mais se identifica? É feliz mesmo quando as coisas para você não sejam fáceis? Você tem sofrido alguma afronta por amor a Jesus?

Pai, faça-me solidário com os mais pobres deste mundo, e ensina-me a partilhar, de modo que chegue até eles a esperança e a alegria que Jesus veio nos trazer e então eu seja verdadeiramente feliz. Pois Vosso Filho, Jesus nosso irmão, nos ensinou que há mais alegria em dar do que em receber!
Fonte Canção Nova